{Miniconto} Rosa Branca

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Todos os dias, às seis e meia da manhã, enquanto como meu cereal matinal e olho pela janela da cozinha, Rosa White passa na rua com sua bicicleta cheia de flores vermelhas e azuis, sorrindo para a clientela, ela esbanja felicidade e alegria, não tem ninguém que a deteste ou que não pare para lhe dar bom-dia.

Rosa tem a minha idade, fizemos o fundamental juntos no passado e ela entrou para a mesma faculdade que eu, uma faculdade renomada e concorrida, enquanto fui para administração, ela se arriscou em cinema. Todos os dias depois da aula, Rosa ficava no jardim tirando fotos da paisagem com Margarida, sua melhor amiga, sempre achei irônico as duas terem nome de flor e gostarem tanto dessas plantas.

Na época, na minha fase mais antissocial, eu gostava de observar pessoas e aprender um pouco com elas, Rosa me parecia bastante livre e feliz, ela se cercava das coisas boas que gostava de fazer, assim, suas responsabilidades eram prazerosas na maioria das vezes. Ela não fez suas escolhas baseadas no que os outros diziam, ela não ligou para seu cérebro ou para as dificuldades, ela só ouviu seu coração.

Rosa não concluiu o último período de faculdade, dizem que ela simplesmente abandonou o curso numa quarta-feira de sol, alguns falam que ela sofreu uma perda, outros, que foi uma desilusão amorosa que a fez desistir de tudo, mas foi apenas Rosa. Sei disso pois a segui naquele dia, por entre as árvores do bosque do campus, tive de correr para alcançá-la, perto de um pequeno laguinho com meia dúzia de peixes e água cristalina, um dos lugares mais lindos que já vi.

Lhe perguntei o que havia dado para sair correndo daquele jeito, ela me disse que agora iria fazer o filme de sua própria vida, que viveria da forma que achasse melhor e encontraria uma forma de se sustentar, lhe respondi que queria ser assim e ela simplesmente me retrucou dizendo que eu poderia ser quem quisesse ser. Na hora não disse que gostaria de ser ela, ou pelo menos ter a sua coragem para tomar um rumo diferente na vida, mas ela percebeu pelos meus olhos.

-Apenas pense na coisa que você mais gosta no mundo e use isso como inspiração. Não enxergue longe, não vá muito além, apenas olhe em volta.

Meus amigos ganharam o mundo, sonharam alto e realizaram seus objetivos, Rosa nunca saiu da nossa cidadezinha natal, vive até hoje com simplicidade e felicidade. Só percebi como esse lugar é lindo quando comecei a ver as coisas pelos olhos dela. Não preciso de muito mais do que tinha na época, apenas do meu emprego na área de administração (concluí a faculdade, afinal) e de uma janela na cozinha.

A partir de então, todos os dias, quando abro as portas de casa para trabalhar, encontro uma rosa branca no batente na porta e coloco no rosto meu melhor sorriso, levo a flor comigo para onde for, como meu pequeno símbolo de liberdade. O símbolo da minha coragem de ser como Rosa. Coragem de abrir mão de muitas coisas grandes para ser feliz.

Samantha Culceag.

6 comentários

  1. Às vezes o simples é muito mais do que qualquer outra coisa!
    Em uma sociedade onde ter é poder, quem consegue ser feliz com pouco é raridade!
    Adooorei esse conto! *-*

    Beijão!
    www.ooutroladodaraposa.com.br

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  2. Sam, eu amei! Não tenho muita habilidade pra descrever uma história em que os fatos ocorram todos em uma sequência e você faz isso com maestria <3 Sucesso ai no blog :*
    Abraço
    blogestrelasdepapel.blogspot.com

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  3. Nossa que lindo!
    Tenho certeza de que a maioria das pessoas gostaria de ter ao menos um pouco da coragem da Rosa para ao menos uma vez na vida fazer o que seu coração manda. Muito lindo mesmo o conto, parabéns!

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  4. Quanto tempo não apareço por aqui! Que conto mais lindo, passei alguns segundos olhando a imagem e percebi que fez sentido! haha, amo quando isso acontece. Mas enfim, o texto ta a coisa mais perfeita, você escreve muito bem.
    Beijos, Jardim de primavera

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  5. marivilhoso esse miniconto . queria ter a mesma coragem desda rosa branca
    ela seguiu o coração e viveu muito feliz mesmo com a simplisidade .

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